Intervalo

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo

Que é verdadeiro só se é segredado?...
Quem te disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo.
Não foi um outro, porque não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei?

Seja o que for, quem foi que levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?

Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.

Fernando Pessoa

3 comentários:

Elcio Tuiribepi disse...

Ah...esse Fernando dispensa comentários...portanto...fui...rs
Ótima escolha sempre que colher peomas desse cara...beijo

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Andrea
Desculpe-me pela ausência, estava viajando de férias para um merecido descanso. Voltei.
Adoro Fernando Pessoa.
Beijos

Sylvio de Alencar. disse...

Gosto tanto desse cara.....! (Cara????? Sei lá, desculpe-me. Escapou).
Comecei a ler, gostei da rima...., continuei.; joguei meus olhos pra baixo, e vi o nome dele; aí, veio-me a frase na cabeça:
- Gosto muito desse cara!
Senti-me meio 'em pecado' por pensar em descrevê-lo assim: ('cara'), mas sou meio mal educado, grosso às vezes.
:)
Bjs minha querida.

Palavra de verificação: aldless (o sem aldeia).